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EDUCAÇÃO

Três perguntas para
Othon Almeida

Publicado em 2 de dezembro de 2018, 20:46:01

Uma pesquisa realizada pela empresa de auditoria e consultoria Deloitte nas duas semanas seguintes ao segundo turno da eleição presidencial avaliou as expectativas dos empresários sobre os negócios em 2019 e retratou as prioridades que eles gostariam de ver para a ação do governo no ano que vem. Além do peso atribuído às reformas tributária, previdenciária e política — as três concentram de 80% a 90% das prioridades apontadas —, a Deloitte captou também uma demanda por medidas contra a corrupção e por um ajuste fiscal, com mais de 60% das respostas. A necessidade de políticas para ampliar a participação do Brasil no comércio exterior foi ainda indicada por 53% dos executivos que responderam à pesquisa.

Para Othon Almeida, líder de Market Development e Talento & Cultura da Deloitte no Brasil, entretanto, o resultado mais impactante do levantamento foi o destaque dado à educação como investimento social prioritário. “Foi a primeira vez desde o início da pesquisa que isso apareceu de maneira tão clara”, diz ele. A Agenda 2019, como é chamado o trabalho, está em sua terceira versão anual.

Desta vez, 826 empresas participaram do levantamento feito por meio de um questionário eletrônico. As receitas conjuntas dessas empresas somam R$ 2,8 trilhões e representam cerca de 43% do PIB brasileiro (números de 2017). A seguir, Almeida comenta para o site da PIB o que representa essa nova prioridade para a educação indicada pelos empresários.

O que está na base do resultado desta pesquisa, em termos de políticas de educação?
Com o avanço da indústria 4.0 no mundo e com as transformações digitais que estão acontecendo, começam a surgir no Brasil, ainda de forma embrionária, os sinais de uma grande revolução. Outras partes do mundo são mais intensivas no uso de tecnologia; países que operam em 5G na telefonia, o que permite a utilização da internet das coisas. No Brasil, esse processo está perto de chegar.

Nos próximos dois ou três anos, devemos ter um avanço tecnológico na conectividade que vai permitir, de fato, o avanço da indústria 4.0. Tudo isso torna a educação ainda mais importante, tanto para as pessoas que estão chegando ao mercado de trabalho quanto para as que já estão lá. Transformar o processo educacional é ainda atender as pessoas que estão fora do sistema.

O empresário tem uma dificuldade muito grande de obtenção de mão de obra qualificada para o futuro. Por essa razão, o investimento em treinamento é um fator fundamental. O segundo ponto é que o governo não tem capacidade de oferecer a educação nos níveis necessários. Inúmeras parcerias público-privadas vão surgir na área de educação para poder dar escala e suprir essa demanda educacional que o Estado não consegue atender.

Como se daria essa parceria e como seriam divididas as responsabilidades?
Parcerias público-privadas na área da educação existem em diversos países. No Brasil mesmo temos alguns exemplos. O governo entra com a missão de fazer políticas públicas, e os empresários entram com sua capacidade de alocar investimentos e experiência de gestão.

Para ter sucesso, uma parceria dessas deveria ser integral, envolvendo todas as fases do ensino, desde o ensino fundamental até a universidade. É justamente no fundamental que há maior necessidade de investimentos. A capacidade de investimento da iniciativa privada está associada à capacidade que o governo tem de estimular e trazer as iniciativas.

Existem grandes grupos educacionais internacionais e nacionais que têm interesse em participar. Se o governo abrir a possibilidade, haverá interesse em investir nesses projetos.

Qual a expectativa de que o governo que vai tomar posse em janeiro abra caminho para essas parcerias?
Posso responder pela própria pesquisa. Perguntamos sobre a expectativa dos participantes quanto à capacidade de o governo atender esses desejos, e 38% disseram que sim, acham que o governo vai endereçar essas prioridades. É um numero expressivo e relevante. Mais 56% acham que o governo vai endereçar parcialmente as prioridades.

Na pesquisa, 97% das empresas disseram que pretendem investir em seus negócios no próximo ano.  Por que a contratação de pessoas não é proporcional a isso? Porque na realidade, muito vai ser agregado em ganhos de eficiência operacional com o emprego de robótica, do data analytics e de outras tecnologias.

Só 47% vão aumentar seu quadro profissional; 32% vão manter o quadro, mas substituir pessoas por profissionais mais qualificados. Apenas 7% das empresas disseram que vão demitir – é nada diante do numero total de mais de 800 empresas. Ou seja, há um grande espaço de empregabilidade no país. Estamos longe do grau de maturidade em grandes processos de transformação digital. Se tivermos investimento adequado para requalificar ou qualificar as pessoas que vão chegar a este novo mercado, certamente esse modelo de trabalho será diferente.

Qualificar melhor os profissionais é um norte. Para mim, é uma felicidade ver a educação pela primeira nesse patamar tão alto. Temos um grande espaço para melhorar processos, e isso vai trazer um reflexo muito positivo para a sociedade.