ECONOMIA DIGITAL

Lojas virtuais para a América Latina

A Infracommerce, provedora de serviços de e-commerce de São Paulo, expande sua atuação para quatro países da região a pedido dos clientes

Nely Caixeta

Publicado em 7 de julho de 2019, 22:15:12

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A Infracommerce em São Paulo: R$ 3 bilhões de vendas em 52 lojas virtuais   Divulgação

Há quem saia para o mundo por vontade própria. Há também quem se internacionalize por necessidade de não perder o negócio doméstico. Foi esse o caso da Infracommerce, empresa de São Paulo que cria e mantém operações completas de e-commerce para marcas que desejam vender diretamente pela Internet aos consumidores finais, mas não têm conhecimento nem experiência de comércio eletrônico para montar do zero sua própria operação.

Fundada em 2012, num período de expansão das vendas pela Internet, a empresa cresceu rápido: em três anos já tomava conta das plataformas brasileiras de comércio eletrônico de grandes empresas nacionais e multinacionais (o site da Infracommerce lista como clientes, entre outras, Unilever, Bombril, Coca-Cola, Ray-ban, Havaianas e Montblanc).

Luiz Pavão, um dos fundadores e atual CRO (Chief Revenue Officer) da Infracommerce, conta que sair do Brasil não estava nos planos. Mas os próprios clientes forçaram a internacionalização. “A gente começou a perder contratos aqui no Brasil”, diz ele. “Cerca de 90% das nossas empresas clientes são multinacionais, e a gente perdia contratos porque elas queriam alguém que atuasse na América Latina toda, principalmente no México, Colômbia, Chile e Argentina, além do Brasil.”

A solução para o problema foi mudar a estratégia inicial e partir, sem demora, para desbravar os mercados hispano americanos. Depois de contratar um diretor de expansão que conhecia bem os países vizinhos, Pavão saiu em missões de reconhecimento desses mercados. A partir do final de 2015, passou três meses no México e na Argentina – cada um –, algumas semanas ou dias na Colômbia e no Chile.

O primeiro escolhido para uma incursão externa da Infracommerce foi o México – um país de cem milhões de habitantes com e-commerce ainda pouco explorado. “O México tem um grande potencial, mas não encontramos ali nenhum concorrente para adquirir”, diz Pavão. “Por isso, replicamos toda a nossa operação lá do zero: logística, tecnologia, marketing, SAC…”.

Pavão: multinacionais querem ter um prestador de serviço para toda a América Latina   Divulgação 

Já nas incursões seguintes, desta vez a países mais próximos – Argentina e Colômbia –, a Infracommerce encontrou um ambiente de comércio eletrônico bem mais estabelecido, com empresas locais bem desenvolvidas. Dessa forma, foi possível adquirir players locais e abreviar as etapas de implantação.No quarto ano da internacionalização, a Infracommerce tem 10% de seus negócios no exterior. Mas espera alcançar, em cinco anos, um equilíbrio de 40/60 entre operações externas e no Brasil.

A Infracommerce não abre o faturamento, mas revela que o valor das vendas processadas nas 52 lojas virtuais que opera para grandes indústrias é de R$ 3 bilhões —, a empresa fica com uma comissão de 15% a 20% do valor de cada venda.O que ela encontrou de diferente ao passar a operar nos maiores mercados latino-americanos?

Apesar da proximidade cultural e histórica, algumas diferenças são marcantes, responde Pavão. De saída, percebe-se que a carga de impostos é mais baixa e a legislação tributária desses países é muito mais simples do que a brasileira, campeã mundial de complexidade.

Encargos sociais e trabalhistas também pesam menos para as empresas, em geral – a exceção é a Argentina, onde pesam ainda mais do que no Brasil.De forma geral, Argentina, Colômbia e Chile – neste último país, a empresa está entrando agora —, têm mercados semelhantes ao brasileiro no grau de desenvolvimento e na disponibilidade de mão-de-obra capacitada para as tarefas do comércio eletrônico.

Já no México, é mais difícil encontrar trabalhadores qualificados e a rotatividade é muito alta. Para compensar, os preços de imóveis no México são cerca de 40% mais baixos do que no Brasil.

Na Argentina, ao contrário, o metro quadrado é 40% mais caro, o que se soma aos custos da inflação alta e de regras cambiais restritivas para tornar o país vizinho o mais difícil como local de internacionalização.

No México, lembra Pavão, eles encontraram ainda uma barreira cultural forte ao tentar levar brasileiros para suprir as necessidades de mão-de-obra. “Mexicano gosta de falar com mexicano, em espanhol”, resume ele – algo a ser lembrado em negócios ancorados no contato direto com clientes finais.

Site de vendas criado e operado pela Infracommerce: mercado em alta   Divulgação

Quais as perspectivas de levar a Infracommerce para outros países além da América Latina? Mais uma vez, responde Pavão, as demandas dos clientes podem levar a empresa por caminhos imprevistos.

Alguns desenvolvimentos tecnológicos da empresa brasileira, hoje com quase 1.200 funcionários em cinco países, já chamaram a atenção de clientes como a Unilever, por exemplo (a tecnologia da Infracommerce é desenvolvida no Brasil, em fábricas de software localizadas em São Paulo, São Carlos e Belo Horizonte, mas utiliza também softwares comerciais de provedores como Oracle e Microsoft).

Assim, é possível que uma nova frente de internacionalização se abra. “Talvez a gente não vá para outros países com operação de logística, mas a tecnologia tem grande probabilidade de ser um próximo passo de expansão”, prevê Pavão.

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