INTERNACIONALIZAÇÃO

Com uma pequena
ajuda do MIT

Para crescer e ganhar o mundo, empresas brasileiras recorrem a programa acadêmico do Massachusetts Institute of Technology

Suzana Camargo
Publicado em 17 de outubro de 2018, 10:34:25

Neoway: ajuda para avaliar preços de serviços   Divulgação Neoway

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Esta reportagem é composta de três partes. Leia os demais textos nos links abaixo:

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Produtora de chocolates orgânicos finos, a AMMA utiliza matéria-prima da região mais tradicional de plantio de cacau do Brasil: a Bahia. Os tabletes da marca podem ser encontrados em cafés e lojas de cidades dos Estados Unidos, Dinamarca, Suécia e Japão.

Já a catarinense Neoway Business Solutions trabalha com Tecnologia da Informação, oferecendo soluções para análise de big data e prevenção de fraudes digitais. O que essas duas empresas tão distintas têm em comum?

Ambas participaram, recentemente, de um programa de aprendizagem prática oferecido pela Sloan School of Management, a escola de gestão de uma das mais prestigiosas instituições de ensino e pesquisa do mundo, o Massachusetts  Institute of Technology, de Cambridge, nos Estados Unidos — mais conhecido pela sigla MIT, que dispensa apresentações.

Criado no ano 2000, o Laboratório Global de Empreendedorismo (G-Lab) da Sloan School trabalha prioritariamente com empresas de pequeno e médio porte de países emergentes em busca de ferramentas para crescer. O Brasil tem sido, desde sempre, um demandante assíduo dos serviços do G-Lab.

Sloan School: sede do Laboratório Global de Empreeendedorismo, o G-Lab   Divulgação MIT Sloan

Na rodada mais recente do programa — de setembro de 2015 a janeiro de 2016, período que corresponde a um semestre do ano curricular americano —, cinco equipes de quatro alunos de MBA das áreas de administração, engenharia e tecnologia fizeram uma imersão em cada uma das empresas brasileiras participantes.

Por meio de uma combinação de ferramentas virtuais e presença in loco, os alunos do MIT trouxeram às empresas informações e perspectivas inovadoras em áreas críticas para negócios em expansão, tais como estratégias de crescimento, entrada em novos mercados, precificação, marketing, benchmarks e finanças.

Nos três primeiros meses do intercâmbio, os dois lados trocaram informações a distância usando e- mails e teleconferências via Skype e hangouts. Em janeiro deste ano, foi a hora de passar à etapa mão na massa; os estudantes de cada equipe vieram ao Brasil para uma temporada de 30 dias nas sedes das empresas que assessoravam (chamadas de hosts).

Em cada uma, trabalharam na aplicação das soluções discutidas na primeira fase. Todo o processo, que equivale a uma consultoria com propósitos bem práticos e específicos, foi orientado e supervisionado pelos professores e mentores da Sloan MIT.

Casa do Sabor, da AMMA: vitrine em São Paulo  Divulgação AMMA

Para as empresas-host, o programa é uma bem-vinda transferência de conhecimentos e ferramentas de gestão. A AMMA — a fabricante de chocolates da Bahia — usou a oportunidade para aprofundar seu conhecimento do mercado norte -americano de produtos orgânicos, no qual pretende investir mais fortemente. “Eles nos trouxeram muitas pesquisas de mercado, mostrando as tendências, os gargalos e as oportunidades de expansão”, conta Diego Badaró, um dos sócios.

Já a Intelie, do Rio de Janeiro — empresa de tecnologia que também participou desta edição do G-Lab —, recorreu ao programa para reforçar seu mindset global e incrementar a capacidade de planejamento.

“Como somos uma startup, acabamos nos concentrando muito na execução de trabalhos, no caixa, no cliente e, por vezes, pecamos no planejamento”, constata o engenheiro eletrônico Ricardo Clemente, um dos fundadores. “Pela primeira vez, tivemos conosco quatro pessoas brilhantes fazendo um plano estratégico minucioso, com uma estruturação de qualidade; isso foi muito importante para a gente.”

A contrapartida, para os alunos da Sloan MIT, é a oportunidade de transportar para o mundo real o conteúdo dos livros, debates e pesquisas da universidade. “Nosso intuito é que os alunos aprendam sobre empreendedorismo, ao mesmo tempo que as empresas lucram com o conhecimento trazido por eles”, diz Michellana Jester, coordenadora do G-Lab. “Queremos que haja um benefício mútuo.”

Jester, da Sloan MIT: Brasil tem mercado diverso e companhias inovadoras   Divulgação MIT Sloan

Jay Sherman, um dos integrantes da equipe que assessorou a Neoway, de Santa Catarina, conta como se desenvolveu o trabalho. “Depois de uma pesquisa e entrevistas extensivas, montamos uma estratégia de preços e uma estrutura para a entrega de dados via API, um produto novo que a Neoway está lançando”, diz ele. “Nossas recomendações foram bem recebidas pelo time executivo e forneceram diretrizes para a abordagem de uma questão delicada e de grande importância para a empresa.”

Nos 16 anos da iniciativa, 375 empresas, de aproximadamente 50 países, já fizeram parte do programa. O MIT não informa o número de empresas participantes desmembrado por país de origem; segundo Michellana, o Brasil se tornou, nesse período, o destino mais popular entre os participantes.

“O país tem um mercado enorme e diversificado, além de abrigar algumas das companhias de tecnologia mais inovadoras do mundo”, ela explica. Em média, cinco empresas brasileiras são selecionadas a cada ano. Entre as startups nacionais que já passaram pelo G-Lab em rodadas anteriores, podem ser citadas a Ebanx e SambaTech.

A primeira delas, com sede em Curitiba, oferece soluções de pagamento online para sites do mundo todo. Em 2013, já tinha clientes como Facebook, Sony PlayStation, Wish e Spotify. No ano passado, conquistou a conta do Airbnb e este ano, do AliExpress. Em 2015, também iniciou operações físicas no México — o sistema da Ebanx é utilizado por cerca de 10 milhões de consumidores no mundo.

A mineira SambaTech, pioneira na América Latina na distribuição de vídeos online, é outra que trabalha no universo digital. Premiada internacionalmente, tem no portfólio clientes como O Boticário, TV Globo, SBT, Editora Abril, Azul Linhas Aéreas e Hospital Albert Einstein. A SambaTech acaba de anunciar que está abrindo um escritório em Seattle, nos Estados Unidos.

 

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Na edição 2015/16 do G-Lab, empresas de tecnologia predominaram entre as brasileiras escolhidas. Além da AMMA, da Neoway e da Intelie, a paulista Splice e uma quinta companhia que não quis ter o nome divulgado formaram o time canarinho. Em comum, elas têm a ambição de se tornarem globais — uma das razões que as levaram a procurar o G-Lab.

Antes mesmo de se candidatar à consultoria, a Intelie, a Neoway e a AMMA já haviam cruzado fronteiras para oferecer produtos e serviços em outros países. Neste momento, coincidentemente ou não, essas três companhias multinacionais iniciantes têm os olhos voltados para o tentador (e exigente) mercado americano.

No link abaixo, conheça em mais detalhes a história dessas empresas e de como a parceria com o G-Lab do MIT contribuiu para fundamentar seus planos de expansão internacional.

Uma versão deste texto foi publicada nas páginas 18 a 27 do número 33 da Revista PIB de abr/mai/jun/2016, como parte inicial da matéria Aprendizes do MIT. .

Leia a seguir:

Intelie, Neoway, AMMA — as aprendizes de multinacional

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