COMÉRCIO EXTERIOR
Exportador paga caro para chegar ao mercado global
Tarifas, taxas, preços poucos competitivos e custos altos tornam mais difícil a vida do operador brasileiro de comércio exterior, aponta pesquisa da CNI
Publicado em 5 de dezembro de 2018, 17:52:38Navio porta-contêineres em carregamento no porto de Santos: custo alto é problema Divulgação
Tarifas altas de portos e aeroportos, a dificuldade para oferecer preços competitivos, taxas elevadas cobradas por órgãos de fiscalização e os custos elevados do transporte doméstico foram os principais problemas apontados por empresas brasileiras exportadoras ou que trabalham com o comércio exterior, em pesquisa divulgada na primeira semana de dezembro pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A CNI e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) ouviram 589 empresas exportadoras para traçar um retrato das condições do comércio exterior brasileiro.
A pesquisa, chamada Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras, teve sua edição anterior em 2016. Nela, estão listados por ordem de importância os quinze principais entraves às exportações brasileiras.
Avaliados numa escala de um a cinco, os quatro problemas citados acima receberam as críticas mais severas dos participantes do levantamento.
DIFICULDADES PARA EXPORTAR
Principais entraves, dos mais críticos para os menos críticos
Principais entraves | Impacto alto/crítico |
---|---|
Tarifas altas cobradas por portos e aeroportos | 51,8% |
Dificuldade de oferecer preços competitivos | 43,4% |
Taxas elevadas cobradas por órgãos anuentes | 41,9% |
Custo do transporte doméstico | 41,0% |
Baixa eficiência do gov. contra obstáculos internos | 39,4% |
Custo de transporte internacional | 39,0% |
Taxa de câmbio desfavorável às exportações | 37,3% |
Proliferação de leis, normas e regulamentos | 36,7% |
Leis conflituosas, complexas e pouco efetivas | 36,6% |
Interpretações diversas da lei por agentes públicos | 36,2% |
Lentidão para fiscalizar e liberar mercadorias | 35,6% |
Tributação sobre os produtos exportados | 34,0% |
Juros altos para investimento na produção | 33,8% |
Excesso e complexidade de documentos | 32,8% |
Baixa eficiência do gov. contra barreiras externas | 31.0% |
No caso das tarifas altas de portos e aeroportos, 51,8% das empresas avaliaram que a dificuldade “impacta muito” ou “impacta criticamente” suas operações de comércio exterior — os pontos quatro e cinco da escala de avaliação.
Para os três outros problemas mais críticos, uma avaliação semelhante foi feita por 41% a 43,4% das empresas respondentes.
Num degrau abaixo — com percentual de avaliação de impacto elevado ou crítico entre 37,3% e 39,4% —, os exportadores também apontaram, como entraves relevantes para uma participação maior da indústria brasileira no mercado global, uma taxa de câmbio desfavorável às exportações; o alto custo do transporte internacional (do Brasil ao país de destino); e a baixa efetividade do governo para superar entraves internos à exportação.
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Outros problemas, de natureza legal e regulatória, também foram citados: a proliferação de leis e regulamentos, vindos de fontes múltiplas; a prevalência de leis complexas, conflituosas e pouco efetivas, sujeitas a interpretações variadas pelos agentes públicos; e o tempo longo demais gasto na fiscalização, despacho e liberação das mercadorias exportadas.
Para 35,6% a 36,6% dos respondentes, estas dificuldades têm impacto alto ou crítico sobre suas operações.
Para o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Eduardo Abijaodi, os problemas apontados exigem ações tanto do Estado quanto do setor privado — o governo deve atacar problemas estruturais por meio de reformas, enquanto as empresas precisam investir em produtividade e inovação.
“Uma vez que o câmbio está mais favorável às exportações, os problemas estruturais, de produtividade e de inovação se tornam mais visíveis”, diz Abijaodi.
O universo das empresas pesquisadas cobre negócios de todos os portes.
As micro e pequenas empresas – com até 49 funcionários, pelo critério Eurostat, a agência estatística da União Europeia, adotado pela CNI – representam 39% dos participantes.
Outros 38,2% correspondem a empresas médias, com até 250 empregados, enquanto 22,7% são empresas grandes, que têm acima de 250 funcionários.
Cerca de um terço dos exportadores representados no levantamento têm faturamento anual bruto de até 10 milhões de reais. Uma fatia um pouco maior fica na faixa de faturamento entre 10 milhões e 50 milhões de reais por ano.
Em termos de setores econômicos, a maior fatia — 16,8% — é de produtores de máquinas e equipamentos. Alimentos, agricultura e pecuária, metalurgia e química são outros setores representados, todos em percentuais abaixo de 10%.
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