ECONOMIA DIGITAL

De olho no fogo

A Sintecsys, de Jundiaí, usa câmeras e algoritmos para detectar focos de incêndios em plantações antes que se tornem grandes queimadas

Nely Caixeta

Publicado em 18 de janeiro de 2020, 8:45:42

Compartilhe

Cavalcante: tecnologia da Sintecsys protege o negócio e o meio ambiente   Divulgação

NA HISTÓRIA e na literatura, a cidade e o campo são às vezes vistos como opostos em tudo. A Sintecsys, de Jundiaí (SP), desafia o lugar-comum. A agtech encontrou um nicho que, na visão de seus líderes, beneficia tanto os clientes produtores rurais quanto os habitantes das cidades.

A Sintecsys detecta focos de incêndio em plantações e florestas antes de se tornarem grandes queimadas – aquelas capazes de incinerar muita vegetação e gerar gases de efeito estufa, fatores de aquecimento global (estima-se que cada hectare queimado libere no ambiente de 50 a 200 toneladas de dióxido de carbono, o CO2).

“É um problema de que quase ninguém fala”, diz Tiago Manga, o responsável pelo marketing da empresa. Apenas em plantações de cana-de-açúcar, ele calcula que surjam, numa estimativa por baixo, mais de 200 focos de fogo nos oito meses de safra a cada ano. Florestas plantadas de eucaliptos e pínus também são vulneráveis.

A Sintecsys automatizou a vigilância das áreas cultivadas. Em vez de manter vigias humanos com binóculos, encarapitados em torres de 40 metros de altura, a startup instala nas torres câmeras de alta resolução que giram 360 graus e cobrem um raio de 15 quilômetros – até de noite, quando o olho humano não distingue a fumaça (energia solar e sistema próprio de transmissão de dados garantem autonomia ao equipamento).

Além de ver no escuro, o sistema tem um cérebro, na forma de algoritmos desenvolvidos para reconhecer focos de fogo e apontar suas coordenadas precisas para os operadores humanos. Estes, abrigados numa sala com telões, alertam bombeiros e brigadistas.

Tudo levado em conta, reduz-se o tempo de detecção de um foco de 40 para 5 minutos, o que agiliza o combate. “Um foco com 5 minutos é uma coisa”, diz Manga. “Com 40, já se alastra muito rapidamente.” Para Rogério Cavalcante, CEO da Sintecsys, o potencial de dano do fogo tem muitas faces. “Além de impactar o ambiente, as queimadas contribuíram negativamente para a imagem do Brasil no cenário internacional e afetaram as relações comerciais”, ele nota.

Por isso, acredita que a tecnologia da startup não só tem impacto ambiental positivo como contribui para a eficiência e a segurança do agronegócio. A Sintecsys informa que os clientes reportam uma redução de até 90% das perdas físicas e com insumos nas áreas monitoradas. No futuro, a empresa quer passar da detecção à predição de incêndios, estimando probabilidades com base no histórico de dados acumulados ao longo do tempo e em informações de satélites.

Fundada em 2016, a startup atende hoje 11 empresas – Bunge, Biosev e International Paper entre elas – e monitora 3,5 milhões de hectares no total. O faturamento, de acordo com Manga, cresceu de R$ 1 milhão em 2017 para R$ 2,1 milhões em 2018, com a expectativa de chegar a R$ 4,5 milhões em 2019.

Leia também

Revolução verde 4.0

Entrevista: Mariana Vasconcelos, da Agrosmart

Solinftec, a agTech que virou multinacional