ECONOMIA DIGITAL

A agtech que virou multinacional

Fundada por cubanos, a Solinftec, de Araçatuba, monitora oito milhões de hectares de culturas nas Américas

Nely Caixeta

Publicado em 18 de janeiro de 2020, 8:58:02

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Dados na ponta dos dedos: integração entre pessoas, máquinas, clima e agronomia   Divulgação

Em sua breve história, a Solinftec, empresa criada em 2007 na cidade de Araçatuba, interior de São Paulo, construiu uma trajetória invulgar. A começar por sua fundação. Líder em soluções digitais de monitoramento e gestão de propriedades rurais e cotada para ser o primeiro unicórnio entre as agtechs brasileiras – aquelas startups que atingem valor de mercado superior a 1 bilhão de dólares –, a Solinftec foi criada por um grupo de sete cientistas cubanos que vieram ao Brasil para um programa de intercâmbio tecnológico com uma grande empresa e nunca mais voltaram.

Convidados a permanecer no país e empreender, a equipe contabiliza hoje, 12 anos depois, uma notável folha corrida de realizações. Com 500 funcionários em quatro escritórios distribuídos pelo continente – Araçatuba, a sede, no interior de São Paulo; Sinop, em Mato Grosso; Cali, na Colômbia; e West Lafayette, no estado de Indiana, nos EUA –, a Solinftec monitora cerca de 70% das plantações de cana-de-açúcar do Brasil.

No total, incluindo propriedades no resto da América Latina e nos EUA, são 8 milhões de hectares de culturas monitorados, 30 mil equipamentos agrícolas instalados e 100 mil usuários interagindo diariamente.

Plantação de cana-de-açúcar: a Solinftec monitora online 8 milhões de hectares da cultura no Brasil  Divulgação

Mas o que faz a empresa? Suas soluções combinam tecnologias em IoT, processamento de dados (nuvem), dados (algoritmos lineares e inteligência artificial) e telecomunicações (satélite, celular, mesh ou rede própria de baixa frequência). Tudo isso é usado para integrar pessoas, máquinas, clima e agronomia, com a digitalização de todos os aspectos da operação agrícola.

Graças a este arsenal, consegue passar para seus clientes informações em tempo real que lhes permitem tomar decisões para prevenir erros, evitar desperdícios, garantir maior agilidade nos processos e, no final, permitir melhor rentabilidade das operações.

Para a cana-de-açúcar, por exemplo, desenvolveu soluções inteligentes que monitoram as operações de colheita. “Temos um trabalho muito importante com a Solinftec”, diz Ulisses Mello, diretor do Laboratório de Pesquisas da IBM Brasil. “Ela entrou no agro criando um computador de bordo para coletar dados de produtividade nos canaviais e apoiar toda a parte operacional, visando reduzir gastos, por exemplo, com combustível ou com o número de saídas de equipamentos.”

Hernández: por mais conectividade e linhas de crédito para acelerar a disseminação da agricultura 4.0  Divulgação

A parceria com a startup envolve a utilização da inteligência artificial desenvolvida pela IBM. Mais recentemente, a Solinftec disponibilizou sua assistente virtual Alice, a primeira do agronegócio – plataforma que integra e monitora todas as operações da fazenda em tempo real.

Ao analisar os possíveis impactos das tecnologias digitais no Brasil, Britaldo Hernández, sócio-fundador da Solinftec, é direto. “É necessário criar condições para que os produtores possam assimilar estas inovações”, diz. “Pontos como melhoria da conectividade no campo e linhas de crédito compatíveis com as demandas da tecnologia digital irão acelerar a disseminação da agricultura 4.0.”

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